sábado, 30 de agosto de 2008

UM SONHO DE POMAR


UM SONHO DE POMAR
Thelma Regina Siqueira Linhares

Um sonho de pomar
que eu sonho
tem grama verdinha
uma colina
e, lá no alto, uma casinha.

Plantados e já florando
Cajueiro, sapotizeiro e jambeiro.
Carregadinhos, já estão
Os pés de acerola e pinha,
Pitanga, serigüela
E mamão.
Madurinhos já no ponto
Manga-rosa e manga-espada.
E, ao vento balançando, o jovem coqueiro.

Como é sonho
Ainda posso plantar:
Graviola, laranja-lima e limão
E cana-caiana
Prá mais adoçar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DÚVIDA


DÚVIDA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Quem rapidamente passou
o trem do metrô
ou minha juventude?

terça-feira, 26 de agosto de 2008

ELA É PERNAMBUCANA


ELA É PERNAMBUCANA
Thelma Regina Siqueira Linhares


Ela é pernambucana, portanto brasileira.
E brasileira bem típica: Mulher.
Pobre.
Idosa.
Aposentada.
Nunca freqüentou escola. Lê muito pouco e escreve desenhando o próprio nome. Nascida no interior - Paudalho -, numa época em que as escolas rurais eram raridade, em que meninas pobres não tinham direitos defendidos e que a própria família não valorizava os estudos - saber ler era coisa de ricos.
Ela é pernambucana, portanto brasileira.
E brasileira bem típica: Mulher.
Pobre.
Idosa.
Aposentada.
Adolescente, ainda, migrou para a cidade grande - Recife - a capital pernambucana. Sem qualificação foi trabalhar na casa dos outros. Cozinhar. Lavar. Arrumar. Tomar conta de crianças. Uma maratona diária, mal paga, sem prestígio e sem status.
Ela é pernambucana, portanto brasileira.
E brasileira bem típica: Mulher.
Pobre.
Idosa.
Aposentada.
Há mais de cinquënta anos está ligada a uma mesma família. Sentiu na pele, por décadas, os tabus e preconceitos de ser doméstica. Mas quatro gerações aprenderam a amá-la e respeitá-la pela sabedoria que tira do dia-a-dia e da própria experiência, pois a vida lhe ensinou quase tudo o que sabe.
Ela é pernambucana, portanto brasileira.
E brasileira bem típica: Mulher.
Pobre.
Idosa.
Aposentada.
E que ainda sonha. Com mais que o salário-mínimo na aposentadoria. Com uma casinha. Com a saúde e possibiidades de comprar remédios. Com o respeito a direitos elementares, como por exemplo, subir no ônibus, ao dar, ela própria, sinal de parada.
Ela é pernambucana, portanto brasiliera.
E brasileira bem típica: Mulher.
Pobre.
Idosa.
Aposentada.
E, ainda: Madrinha.
Mãe de criação.
Avó de coração.
Obrigada, Dinha!
E que Deus a abençoe, eternamente!

Recife, 26/08/2002.
Recife, 26/08/2008. PARABÉNS pelos 84 anos, Dinha!

domingo, 24 de agosto de 2008

DESASSONHANDO SONHO SÓ




DESASSONHANDO SONHO SÓ
Thelma Regina Siqueira Linhares

Sonho só.
Sonhador inveterado
Sem-sonho realizado
Desassonhando o sonhador
Desassonhando vida afora...

Recife, 2002

sábado, 23 de agosto de 2008

CONVOCAÇÃO GERAL


CONVOCAÇÃO GERAL
Thelma Regina Siqueira Linhares

Saltitante e serelepe
Saci-pererê convoca
todos os monstros nacionais
para uma doce travessura
num "raloin" à brasileira.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

22 DE AGOSTO



22 DE AGOSTO
Thelma Regina Siqueira Linhares


Além de rimar com desgosto, o mês de Agosto traz em seus dias a comemoração do Dia Mundial do Folclore. Precisamente, o dia 22. Data dedicada a tudo que traduz “o pensar, sentir e agir de um povo” como tão definitivamente definiu Luís da Câmara Cascudo, o mais completo folclorista brasileiro.

O vocábulo Folclore foi criado em 1846, pelo antropólogo inglês William John Thoms. Mas, muito tempo atrás, ainda na Antiguidade, escritores, pensadores e filósofos atentaram para alguns fatos folclóricos dedicando-lhes estudos e importâncias na construção do conhecimento de povos, culturas e civilizações.

A vivência do Folclore há muito retrocede no tempo. Talvez, àquele exato momento em que os primeiros seres humanos se definiram como tal, na linha divisória com os outros primatas. Observando a natureza, buscando a sobrevivência da espécie, dando identidade própria a determinado grupo social, enfim, promovendo aprendizagens e socializando conhecimentos incorporados às tradições e transmitidas oralmente através das gerações.

À tradição e à oralidade, junta-se o anonimato e a funcionalidade do fato para torná-lo folclórico. Do contrário, apenas um fato popular ou pitoresco.

E como é variado o leque dos fatos folclóricos! Cantigas de ninar e acalanto. Cantigas de roda. Histórias da carochinha, lendas e mitos. Brinquedos e brincadeiras populares. Ditados populares, provérbios, frases de pára-choques de caminhão. Parlendas, trava-línguas. Adivinhações, crendices e superstições. Comidas e bebidas típicas. Tipos populares. Artesanato. Medicina popular. Entre tantos.

E tem fato folclórico para todo gosto e idade.

Ainda no ventre da mãe, adivinhações e crendices buscam a identificação do sexo do feto. Ao nascer, braços carinhosos, solícitos e cuidadosos protegem o bebê que cresce e vai se apropriando da cultura em que está inserido. Pela transmissão. Pela oralidade. Pela tradição.
Na creche ou na escola se acelera a socialização infantil. As brincadeiras e cantigas de roda, as parlendas, as histórias da carochinha, etc. povoam a imaginação, exercitam à criatividade, ampliam vocabulário. Na infância e adolescência, brincadeiras populares, folguedos, crendices e superstições. Na idade adulta e velhice, comidas e bebidas típicas, crendices... E a história se repetindo, se reinventando, se reescrevendo.

22 de Agosto.
Bela data para rever valores. Inclusive, ocasião para reverter preconceitos de considerar Folclore uma ciência de menor importância para a humanidade. Neil Armstrong ao deixar sua pegada no solo lunar citou ser aquele “um grande passo para a humanidade” e lá ficou a marca do seu pé direito... para dar sorte, com certeza!

22 de Agosto.
Também é data de lembranças. Da festa do Folclore na FUNDAJ, tendo por anfitrião o folclorista Mário Souto Maior. Encontro de amigos. Socialização de saberes. Comes e bebes autenticamente nordestinos...

22 de Agosto.
Viva o Folclore!

Recife, 24/08/2002

terça-feira, 19 de agosto de 2008

FOLCLOREANDO


FOLCLOREANDO
Thelma Regina Siqueira Linhares


Ciranda, cirandinha
- quem já não cantou?
Passar anel e pular amarelinha
- quem já não brincou?
Cinderela, Branca de Neve
- quem já não contou?
Um, dois, feijão com arroz
- quem já não falou?

Bola de gude.
Empinar papagaio.
Brincar de elástico.
Boca de forno - forno!
Estátua.
Dedo mindinho.

A criança de ontem ensina a de hoje.
E assim por diante.
Amém!

domingo, 17 de agosto de 2008

O FOLCLORE NOSSO DE CADA DIA


O FOLCLORE NOSSO DO DIA-A-DIA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Não queria ser repetitiva ao escrever sobre o tema, uma vez que participei da edição nº 37, comemorativa do 3º aniversário da Jangada Brasil, em setembro de 2001 e intitulada Folclore e Eu. Assim, resolvi destacar marcas e marcos que em mim ficaram ao encontrar e vivenciar folclore, no meu cotidiano de algumas primaveras.

Como fugir às lembranças doces e amenas da infância e adolescência?!... A construção da minha própria história foi fundamentada no folclore através dos adultos mais significativos (mamãe, papai, madrinha, demais parentes e professoras) e das vivências compartilhadas com minha irmã e coleguinhas de infância e da escola. Época das cantigas de ninar, parlendas, trava-línguas, contos, mitos e lendas. Brincadeiras de casinhas e bonecas, adivinhas, cantigas de roda e jogos dramáticos. Superstições e crendices. Costumes e culinárias típicas acompanhando as festas populares e a riqueza cultural da Região Nordeste do Brasil, onde nasci e vivo. O que não era vivenciado, me era apresentado pelos livros, muitos livros, e pela televisão, que serviam de porta para o mundo fantástico e encantado do folclore. Sempre uma rara e enriquecedora viagem.

Na juventude, a opção pelos estudos folclóricos. Um curso na FUNDAJ, coordenado pelo folclorista e grande figura humana, Mário Souto Maior, permitiu um olhar atento às diferentes manifestações folclóricas do nosso dia-a-dia. A alegria de ler e manusear pesquisas realizadas sobre temas diversos, mas sempre ímpar, passou a fazer parte das minhas iniciativas profissionais.

Adulta, juntamente com o maridão, foi a vez de mediar, a transmissão do folclore aos filhotes e sobrinhos. E, aqui, um reviver sempre prazeroso.

Nesse meio tempo, alguns encontros e reencontros emocionantes. O Lobo e os Sete Cabritinhos, em livro didático. Peças em barro do Mestre Vitalino, Manoel Eudócio e outros artesãos de Caruaru. A própria feira de Caruaru e de Gravatá, cidades do Agreste pernambucano. Encontros em eventos e feiras com Ana das Carrancas e Marinalva Rufino (A Luz Divina), ambas de Petrolina. J. Borges, Dilá, José Costa Leite, Abraão Batista, Stênio Diniz xilógrafos e cordelistas, de Pernambuco e Ceará. Lia de Itamaracá e Dona Duda, em suas cirandas e cirandar... Tog e Zezinho de Tracunhaém, santeiros de Pernambuco. Mestre Noza e o grande Patativa do Assaré, inesquecíveis. Já na era da internet, sites maravilhosos possibilitam encontros com pesquisadores, estudiosos e fazedores de diferentes manifestações e fatos folclóricos. A socialização de conhecimentos passa a ser virtual.

Como há muito citou o Mestre Luís da Câmara Cascudo, o folclore representa as maneiras diversas do pensar, sentir e agir do povo. Referem-se à produção humana, algumas vezes contestada pelo saber dominante, mas, igualmente valiosa e formadora da identidade cultural. Basta citar que Santos Dumont, no início do século passado e talvez o homem que detinha mais conhecimento científico à época, construiu em sua casa uma escada pela qual só se subia e descia com o pé direito – mundialmente conhecido para dar sorte. Do mesmo modo, que o primeiro astronauta, ao pisar na lua, conquistando para a humanidade novos espaços geográficos, deixou a marca de seu pé direito... Em ambos exemplos, registros de ignorâncias? Crendices? Coincidências? Ou a comprovação da presença do folclore nosso no dia-a-dia?



http://www.jangadabrasil.com.br/revista/setembro94/especial22.asp

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SONHOS FURTA COR



SONHOS FURTA COR
Thelma Regina Siqueira Linhares

Sonhos em vermelho,
azul, amarelo, verde,
preto ou branco.
Em tons pastéis
quem, sabe, em tons carregados...
Importante é não acordar de pesadelo!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Daiane dos Santos, você é 10!


DAIANE DOS SANTOS, você é 10!
Thelma Regina Siqueira Linhares

Extrapolando as expectativas, como foi bom vê-la apresentando-se com a coreografia Brasileirinho, dia 2, (2 de abril de 2004) misto de perfeição de atleta, jinga de um povo, graça de menina.
Em você, menina-mulher, negra, pobre, quanta dedicação, quanta superação, em busca do sonho e realização pessoal e profissional.
Obrigada pelo minuto e tanto de pura emoção que senti diante da telinha de tv!
Você é 10, Daiane!
Deus a proteja!
Thelma Regina


publicado em www.usinadeletras.com.br, em 04/04/2004

sábado, 9 de agosto de 2008

SALVE, LIA DE ITAMARACÁ!

Lia de Itamaracá em apresentação na IX FENEARTE em 11/07/2008



SALVE, LIA DE ITAMARACÁ!
Thelma Regina Siqueira Linhares

“...Esta ciranda quem me deu foi Lia
Que mora na Ilha de Itamaracá.”


Quantos anos já se vão
E quantas voltas a vida deu...
Nem sempre como a brisa do vento.
Nem sempre como o balanço do mar.
A juventude ficou
lá nas pegadas da areia de Itamaracá.
Mas o sonho e o encanto,
esses, sim,
continuam
e hoje é bom recordar
doces momentos
da ciranda de Lia de Itamaracá.

http://www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.php?user=telmare
em 07/09/2005

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

BAOBÁS


BAOBÁS
Thelma Regina Siqueira Linhares

Belos baobás
alguns centenários
outros árvores tenras
que enfeitam
praças e parques da cidade do Recife.

Beleza vegetal
que a mãe-natureza
gerou na distante mãe-África
como símbolo de vida e resistência.

Majestade vegetal
à tua serenidade e fortaleza
rendo meu olhar embevecido.

domingo, 3 de agosto de 2008

FOLCLOREANDO NA ESCOLA

FOLCLOREANDO NA ESCOLA
Vivências de Folclore em sala-de-aula no Ensino Fundamental
Thelma Regina Siqueira Linhares


Pensar, falar, escrever, pesquisar sobre o folclore é sempre muito prazeroso porque se trata de vivências, antigas ou atuais, compartilhadas ao longo de gerações. Afinal, traduz o pensar, sentir e agir do povo, como definiu Luís da Câmara Cascudo.
A palavra folclore vem do inglês - folk lore - e foi inventada em 1846, pelo sociólogo Willians Thomes, significando saber (folk) do povo (lore). No Brasil, o termo traduz tudo aquilo que, compartilhado pelo povo, caracteriza a sua própria identidade, a sua brasilidade e/ou, então, aquilo que é peculiar a uma região, a uma localidade menor, ou até mesmo, a um grupo social específico.
Para que um fato seja considerado folclore é preciso que alguns fatores, em conjunto, sejam considerados. Do contrário, é um fato social, popular.
Anonimato: no fato folclórico, o autor ou inventor conhecido se perdeu no tempo. Foi despersonificado.
Aceitação coletiva: inventado e aceito, o fato passa a ser repetido, vivenciado, modificado, acrescido. O povo passa a incorporá-lo como seu.
Transmissão: o fato é passado às novas gerações pela transmissão, preferencialmente, oral. A aprendizagem, quase sempre, é informal e lúdica - aprende-se por aprender, fazendo brincando. Hoje, os meios de comunicações em massa, acessíveis a parcelas cada vez maiores da população e a escolarização em índices sempre crescente, reduzem a importância da oralidade no processo de perpetuação do fato folclórico. Identificando na perpetuação do folclore o dinamismo que o caracteriza: folclore é vida!
Funcionalidade: o fato folclórico existe para atender alguma função ou necessidade, uma razão de ser, um porquê, que pode, inclusive, já se ter perdido no tempo.
São inúmeras e variadas as manifestações folclóricas, vivenciadas no coletivo e, às vezes, com conotações bem individualizadas. Desejar saúde para quem espirra, ter o número 13 como de azar ou sorte, cantar "atirei o pau no gato", comer uma canjica, dançar uma quadrilha, comprar um bumba-meu-boi de barro, empinar um papagaio ou pipa, usar branco na passagem de ano, etc. etc. são alguns exemplos de manifestações folclóricas vivenciadas em diferentes etapas da vida e em oportunidades e freqüência, igualmente, variadas.
O folclore direcionado às crianças, talvez, seja o mais rico em manifestações. E, com certeza, é o que mais belas lembranças trazem.
Cantigas de ninar ou acalanto: Começa no berço o aprendizado do folclore. Com que amor a mãe ou a figura materna canta para adormecer o bebê!
Dorme neném / Que a cuca vem pegar /Mamãe foi pra roça/ Papai foi trabalhar.
Cantigas de roda: expressão maior da infância, particularmente, das meninas. Importante instrumento de socialização nas escolas de Educação Infantil (creche e pré-escola). Os livros didáticos de Educação Infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), regularmente, trazem esta manifestação folclórica em suas páginas.
Pai Francisco entrou na roda / Tocando o seu violão / Delém, dém, dém (bis) / Vem de lá seu delegado / Que Pai Francisco / Saiu da prisão. / Quando ele vem / Se requebrando Parece um boneco / Se desmanchando. (bis)
Histórias de trancoso ou da carochinha: quem não guarda na memória passagens inesquecíveis de suas histórias prediletas e que dividem, com os super-heróis televisivos, o imaginário infantil?
Cinderela, Branca de Neve, Os Três Porquinhos.
Brinquedos populares: brinquedos confeccionados artesanalmente ou não e que fazem a alegria da garotada, em particular, as das camadas socioeconômicas mais desfavorecidas.
Pipa (papagaio), pião, mané-gostoso, bruxinha de pano, iô-iô, rói-rói.
Brincadeiras infantis: brincadeiras vivenciadas, principalmente, pela garotada dos bairros mais populares, morros e periferias do Recife. Sujeitas a modismos.
Pular academia (amarelinha), pular elástico e corda, soltar papagaio (pipa), jogar bola de gude, pião, brincar de estátua, telefone-sem-fio.
Adivinhações: perguntas que se faz, geralmente, usando a expressão "o que é o que é?" e que a criançada se apressa em resolver os desafios e enigmas.
O que é o que é?Tem coroa e não é rei? Tem espinhos e não é rosa? (Resposta: abacaxi)
Parlendas: brincar com as rimas das palavras é preferência da garotada, em especial, nos primeiros anos de escolaridade.
Um, dois - feijão com arroz. Três, quatro - farinha no prato Cinco, seis - tudo outra vez Sete, oito - como biscoito Nove, dez - besta tu és.
Trava-língua: brincar com as palavras que, em combinações complicadas, devem ser ditas rápida e repetitivamente.
Na casa de seu Saldanha tinha uma jarra e dentro da jarra uma aranha. / A aranha arranha a jarra e a jarra arranha a aranha. (bis)
Lendas: histórias que tentam dar explicações a fenômenos da natureza, a seres vivos e imaginários.
Negrinho do pastoreio, Cumade Fulozinha , Saci-pererê, Boitatá, Sereia, Boto cor-de-rosa, do Milho, da Mandioca.
Quadrinhas: as meninas, especialmente ao entrar na adolescência, usam esta manifestação folclórica para expressar a descoberta do amor.
Com a escrevo amor / Com p escrevo paixão / com e escrevo Edvaldo / Que é dono do meu coração.
Mitos folclóricos: seres do imaginário coletivo que têm existência própria e estão associados às lendas. Saci-pererê, Sapo-cururu, Cuca, Boitatá, Iara, Caipora, Mula-sem-cabeça, Curupira Lobisomem.
Piadas ou anedotas: histórias engraçadas ou até imorais que fazem a graça em rodinhas de amigos, algumas vezes, regadas por cervejas. Piadas de português, de papagaio, de Juquinha, discriminatórias (de negros, pobres, deficientes físicos, homossexuais).
Medicina popular: uso das plantas que curam, de uma farmácia vinda diretamente da natureza. Sabedoria tradicionalíssima usada, em especial, pelas camadas da população mais pobres e por aqueles adeptos da medicina alternativa e natural. Médicos e demais profissionais da saúde, vêm dando importância a esta terapia, objeto de estudos cada vez mais difundido nos meios acadêmicos, científicos e farmacêuticos. Boldo, hortelã, língua de sapo, alfavaca, canela, gengibre, biribiri, mastruz.
Literatura de cordel ou folheto: literatura popular e tradicional, talvez, o principal meio de comunicação entre as camadas mais populares, até as primeiras décadas do século XX. Muitas vezes associada ao canto. O poeta-trovador, por intermédio de desafios e "causos", levava conhecimento e diversão à platéia, que acompanhava atenta.
Estórias de animais, de amor, de religião, de banditismo, mitológicas (com motivos de morte, magia, sorte ou agouro), de fatos acontecidos.
Xilogravura: artesanato da gravura, do desenho. Associada, principalmente, ao folheto, à literatura de cordel. Cenas da natureza e do cotidiano do sertanejo costumam ter destaque na temática da xilogravura.
Artesanato: usando material diverso (palha, barro, madeira, pano, papel, gesso, plástico, cera, contas, miçangas, sementes) e muita criatividade, o artesão concretiza o imaginado, criando objetos utilitários, votivos ou estéticos.
Peças de barro da escola de Mestre Vitalino, Caruaru (PE), Rendas de Passira (PE), Carrancas do Rio São Francisco (PE e BA), Colares hippies.
Provérbios/Ditados populares: pensamentos, frases feitas, máximas, cujas mensagens objetivam interferir, positivamente, na conduta e no comportamento. Filosofia, moral, ética e religião transparecem explícitas ou nas entrelinhas.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Frases de pára-choques de caminhão: frases de cunho moral, religioso e até imoral, difundidas pelos caminhoneiros em seus veículos: Dirigido por mim, guiado por Deus / Vou arranjar ½ de rezar 1/3 para ir a ¼ com você. / 20 ver.
Superstições: práticas de comportamentos para afastar e/ou neutralizar azar para dar e/ou atrair sorte. São reforçadas pelas coincidências de resultados considerados.
Número 13, figa, ferradura, determinada roupa, repetir comportamento, não passar debaixo de escada, desvirar roupas e calçados, bater na madeira.
Crendices: fórmulas para manter determinados comportamentos, condicionados pela crença do faz mal ou do faz bem.
Faz mal tomar leite e comer manga. / Deixar chinelos emborcados provoca a morte de pessoa querida. / Pular janela causa a morte da mãe.
Comidas típicas: características a determinadas localidades geográficas e ciclos folclóricos, muitas vezes, incorporadas à culinária trivial e cotidiana deixando, com certeza, água na boca e dando um sabor especial ao folclore brasileiro.
Canjica, pamonha, pé-de-moleque caracterizam o ciclo junino, em especial, no Nordeste. Churrasco, feijão tropeiro apreciados no sul do país. Feijoada, baião-de-dois, vatapá, acarajé, pato ao tucupi.

Bebidas típicas: versão líquida da culinária incluída no folclore brasileiro. Batida de maracujá, licor de jenipapo, chimarrão, caipirinha.

Folguedos populares: identificados com os principais ciclos folclóricos.Bumba-meu-boi, Pastoril, Reisado, Fandango.

Danças folclóricas: associadas a folguedos, ritmos e músicas ilustram a diversidade e riqueza do folclore brasileiro. Algumas dessas danças possuem trajes típicos, que lhes dão identidade própria. Frevo, Xaxado, Coco, Ciranda, Forró, Maracatu, Caboclinho, Quadrilha.


Os folcloristas costumam, didaticamente, identificar ciclos no folclore brasileiro e que são vivenciados, em todo o território nacional, com intensidade e características próprias.
Ciclo Carnavalesco: tem as folias de Momo como referência onde predominam a alegria, cores, descontração e irreverência.Frevo, Maracatu, Caboclinho, Urso, Máscaras, Fantasia.

Ciclo da Quaresma ou Semana Santa: referem-se à Paixão e Morte de Jesus Cristo. A malhação de Judas e a culinária à base de coco.

Ciclo Junino: iniciado no dia de São José (19 de março) com o plantio do milho, tem a culminância com os Santos de junho: Santo Antônio - o casamenteiro (13), São João (23) e São Pedro e São Paulo (29). Este ciclo é muito festejado no Nordeste, caracterizando-se pela alegria, cores, festanças e uma gostosa culinária, à base do milho. Forró, baião, banda de pífano. Quadrilhas, roupas matutas. Balões, fogos de artifício. Superstições e adivinhações para resolver problemas amorosos. Comidas típicas: pamonha, canjica, pé-de-moleque, milho assado e cozido. Quentão. Ciclo Natalino: o nascimento (Natal) de Jesus Cristo é o tema central deste ciclo. A solidariedade, o amor ao próximo e a Deus, aparecem, explicitamente ou nas entrelinhas, em todas as manifestações do período. Pastoril, Presépio, Papai Noel, troca de presentes. Superstições, crendices. Comidas típicas.


Os órgãos oficiais de turismo, cientes da motivação que tais ciclos exercem, concentram esforços junto à mídia, para divulgação nas demais regiões do Brasil e no exterior, sabedores de que divisas ficarão com o fluxo maior de turistas nesses eventos.
No entanto, é imprescindível ter a clareza que, folclore, popular e turismo não são exatamente a mesma coisa, embora, quase sempre estejam associados. Atentar para isso é importante para professores e bom para o folclore.
Pernambuco possui um número considerável de pessoas que fazem e/ou vivem o folclore. Algumas conhecidas e famosas. A maioria, desconhecida e anônima.
Na Cerâmica, os bonecos de barro, têm em Mestre Vitalino seu maior nome. Fez escola, ainda hoje seguida, por filhos, netos e conterrâneos de Caruaru. Naquela cidade há o museu em sua memória, na casa onde viveu.
Nas Carrancas do Rio São Francisco, destaca-se Ana das Carrancas.
Na Cerâmica dos santos de barro, cita-se Zezinho de Tracunhaém.
Na xilogravura, J. Borges, é um artesão do desenho, além de poeta popular. Suas xilogravuras ilustram folhetos, quadros e painéis.
Na Ciranda, duas mulheres se destacam, em especial nas décadas de 1960 e 1970, quando, semanalmente, comandavam rodas de ciranda em suas respectivas cidades: Lia de Itamaracá, na ilha de Itamaracá e Dona Duda, no Janga, Paulista.
No Coco, destaca-se Dona Selma do Coco, descoberta pela mídia televisiva, em 1997, quando após gravar CD, apresentou-se pelo país e Europa, em programas de televisão, casas de espetáculos e festivais.
No frevo, personificando-o destaca-se Nascimento do Passo, que há décadas faz escola e ensina os segredos do frevo a passistas de todas as idades em escola municipal e oficinas. Nos últimos anos, a garota Safira tem recebido apoio dos órgãos oficiais de turismo para divulgação do frevo pernambucano.
Os bonecos gigantes de Olinda são cada vez mais populares nas ladeiras daquela cidade tornando-se expressão característica do seu carnaval. Sílvio Botelho é o principal artesão, o pai dos bonecos gigantes. Homem da Meia-noite, Mulher-do-dia, Menino da Tarde,
Gilberto Freyre, Capiba, Turista.
Maracatu rural destaca-se Mestre Salustiano.
Mamulengo ou fantoche é outra modalidade do folclore brasileiro destacando-se Mestre Tiridá e os bonecos de Lobatinho.
O folclore brasileiro vem sendo estudado, sistematicamente, durante todo o século XX embora, só em 1966 teve o dia 22 de agosto, lhe dedicado oficialmente, por decreto-lei.
Pereira da Costa foi um dos pioneiros nos estudos folclóricos. Luís da Câmara Cascudo, com certeza, o maior pela sistematização didática e pela extensa bibliografia. Renato Almeida, Edson Carneiro, Théo Brandão, Saul Martins, Waldemar Valente, Roberto Benjamim são nomes de destaque entre os folcloristas, de ontem e de hoje. Mário Souto Maior, que durante muitos anos, esteve à frente da Coordenadoria dos Estudos Folclóricos, da FUNDAJ, foi exemplo de dedicação ao folclore. Dicionário do Palavrão, Nomes próprios pouco comuns, Comes e bebes do Nordeste, Assim nasce um cabra da peste são alguns das dezenas de títulos do referido pesquisador, que também escreveu para o público infantil.


O professor de Educação Infantil (creche e pré-escola) e, principalmente, o de Educação Fundamental (1ª a 8ª série) tem no folclore panos para as mangas. Conteúdo significativo para trabalhar, não apenas no mês de agosto, mas o ano todo, todo ano. Não só os temas integrantes da pluralidade cultural, como diferentes conteúdos, das áreas específicas do conhecimento, podem ser abordados a partir de um fato ou manifestação folclórica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) garantem a interdisciplinaridade que, naturalmente, aflora ao se vivenciar fatos folclóricos na sala-de-aula.
Numa receita de culinária típica, feijoada por exemplo, o professor de 1ª a 4ª série pode trabalhar:
Português - escrita e leitura do texto, tipografia textual, conteúdos gramaticais.
História - localização temporal da receita.
Geografia -- localização espacial da origem ou aceitação coletiva da feijoada.
Ciências -- valor nutritivo da receita e seus ingredientes, origem dos mesmos na natureza.
Matemática - medidas de massa e volume implícitas nos ingredientes.
Artes - desenho da receita, dramatização de uma cena da família se alimentando.
Se a turma for de 5ª a 8ª série, o professor pode ainda abordar:
Química - composição química de alguns ingredientes da receita.
Física - relação entre temperatura e o cozimento da feijoada.
Inglês - traduzir a receita para o Inglês ou outra língua estrangeira.
O professor, vivenciando o folclore em sala-de-aula, pode desenvolver projetos didáticos os mais variados possíveis e cobrindo diferentes períodos do ano letivo de 200 dias (800 horas-aula) conforme determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) .
Ciclo carnavalesco (fevereiro/março), tempo e folclore (março), ciclo quaresmal, março/abril), folclore e mulher (maio), ciclo junino (junho), folclore na estrada (julho), folclore (agosto), folclore e vegetais (setembro), folclore infantil (outubro), folclore de vida e morte (novembro), ciclo natalino (dezembro) podem ser abordados em projetos didáticos e garantidos pela motivação que emanam das manifestações folclóricas, rendendo-se a seus encantos, educandos e educadores.
Atividades de pesquisa, escrita e reescrita, leitura e releitura, desenho, dramatização, confecção, fotografia, gravação e filmagem são formas possíveis de vivenciar folclore em sala-de-aula, nas diferentes séries do Ensino Fundamental, da rede pública e privada. Um outro recurso, a entrevista, talvez, seja a atividade mais científica de se vivenciar o folclore no cotidiano escolar, quando gerações diferentes conversam, ensinam, resgatam, comparam, socializam experiências - Como era antes? Como é hoje ? - de diferentes fatos e manifestações folclóricas, reproduzindo, na escola, a dinâmica do folclore existente desde os primórdios da humanidade, quando traços culturais passaram a diferenciar o homem dos outros animais.


FUNDAJ, micromonografia n° 288, agosto/2001.
e http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0090.html