sábado, 26 de julho de 2008

PARA GOSTAR DE LER


PARA GOSTAR DE LER
Thelma Regina Siqueira Linhares

Para mim foi fácil aprender a gostar de ler. Inicialmente, como ouvinte, pelas história lidas por papai Nami e mamãe Ivanice ou contadas por madrinha Getrudes. Reis, rainhas, princesas, fadas e madrinhas conviviam enquanto a menina crescia.
Quando terminei a alfabetização, um presente de peso de papai, veio reforçar o meu aprender a gostar de ler: Reino Infantil,coleção em dez volumes de contos da literatura universal, lido, relido ao longo de toda a infância e adolescência. Com pouquíssimas ilustrações, a riqueza dos textos permitia-me viajar na imaginação, comungando com os autores, o maravilhoso mundo do faz-de-conta.
Ainda na infância, tive acesso a um verdadeiro tesouro: o Tesouro da Juventude, que passou a ser o meu passaporte para o mundo da leitura, agora já mais diversificada e exigente. Conhecer culturas e povos diferentes no tempo e no espaço. Fui apresentada a grandes personalidades humanas de todos os tempos. Poesias, exemplos de belas ações, o livro dos por quês, com certeza, reforçaram muitos valores conservados até hoje.
Na adolescência, um presente de uma tia, semanalmente, era esperado e devorado por olhos e mente ávidas pela leitura. A coleção Conhecer. Numa linguagem atualizada, alguns temas do conhecimento científico eram preferidos: História, Geografia, Ecologia, Folclore, Cultura, Inventos.
Mas um lugar de honra era ocupado por um pequeno grande livro, O Pequeno Príncipe, por anos, meu livro de cabeceira. Em cada leitura uma nova descoberta, uma nova mensagem a partir de outro enfoque, da história quase decorada.
Na juventude, a leitura se modificou. Ficou mais acadêmica. Perdeu um pouco da poesia, do prazer de ler pela própria leitura. O corre-corre do cotidiano, a luta pela sobrevivência diária escassearam os momentos de deleite de leitora. A diversidade de opções para ocupar os momentos de lazer concorriam e, geralmente, venciam a leitura prazer.
O gostar de ler ficou como que encantado... até que um conjunto de fatos novos fizeram-no desencantar. Poderoso. O interesse pelo riquíssimo e variado folclore brasileiro, oportunizando-me novas leituras e permitiram-me experimentar o ofício de escritora. Redigi alguns ensaios sobre temas folclóricos, frutos de muita leitura, metodologia científica e, vivências folclóricas, tão arraigados no comportamento e inconsciente coletivo do povo brasileiro. O nascimento dos filhotes, Sthella e Rodrigo, paralelamente, trouxe de volta o hábito da leitura dos clássicos da literatura universal e nacional. E uma grande descoberta. Como é rica a literatura infantil e infanto-juvenil contemporânea do nosso país! Pensar que só a partir de Monteiro Lobato foi criada a literatura para as crianças, por autores e editoras nacionais... que o/a escritor/escritora, na maioria das vezes, encontra tantas dificuldades para editar seus textos. É mesmo surpreendente a criatividades do brasileiro, a beleza vocabular da língua-mãe, a riqueza do texto, do contexto, do intertexto.
E, um dia, para minha surpresa, estava me iniciando como aprendiz de escritora. Aventurando-me em poesias, crônicas, contos e causos. Timidamente, um tanto escondida na internet, mas vibrando e dando vida à imaginação e ao sonho. Oportunizar sempre e apesar de... contatos da criança com o livro, no lar, na escola... contatos físicos ou virtual com a produção literária, de ontem e de hoje... possibilitar o envolvimento emocional da criança com o/a autor/autora e com o texto, inegavelmente, fará com que o gostar de ler cresça com o/a pequeno/pequena.

(*) Publicado em 11/04/2004 em http://www.usinadeletras.com.br/

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