domingo, 17 de agosto de 2008

O FOLCLORE NOSSO DE CADA DIA


O FOLCLORE NOSSO DO DIA-A-DIA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Não queria ser repetitiva ao escrever sobre o tema, uma vez que participei da edição nº 37, comemorativa do 3º aniversário da Jangada Brasil, em setembro de 2001 e intitulada Folclore e Eu. Assim, resolvi destacar marcas e marcos que em mim ficaram ao encontrar e vivenciar folclore, no meu cotidiano de algumas primaveras.

Como fugir às lembranças doces e amenas da infância e adolescência?!... A construção da minha própria história foi fundamentada no folclore através dos adultos mais significativos (mamãe, papai, madrinha, demais parentes e professoras) e das vivências compartilhadas com minha irmã e coleguinhas de infância e da escola. Época das cantigas de ninar, parlendas, trava-línguas, contos, mitos e lendas. Brincadeiras de casinhas e bonecas, adivinhas, cantigas de roda e jogos dramáticos. Superstições e crendices. Costumes e culinárias típicas acompanhando as festas populares e a riqueza cultural da Região Nordeste do Brasil, onde nasci e vivo. O que não era vivenciado, me era apresentado pelos livros, muitos livros, e pela televisão, que serviam de porta para o mundo fantástico e encantado do folclore. Sempre uma rara e enriquecedora viagem.

Na juventude, a opção pelos estudos folclóricos. Um curso na FUNDAJ, coordenado pelo folclorista e grande figura humana, Mário Souto Maior, permitiu um olhar atento às diferentes manifestações folclóricas do nosso dia-a-dia. A alegria de ler e manusear pesquisas realizadas sobre temas diversos, mas sempre ímpar, passou a fazer parte das minhas iniciativas profissionais.

Adulta, juntamente com o maridão, foi a vez de mediar, a transmissão do folclore aos filhotes e sobrinhos. E, aqui, um reviver sempre prazeroso.

Nesse meio tempo, alguns encontros e reencontros emocionantes. O Lobo e os Sete Cabritinhos, em livro didático. Peças em barro do Mestre Vitalino, Manoel Eudócio e outros artesãos de Caruaru. A própria feira de Caruaru e de Gravatá, cidades do Agreste pernambucano. Encontros em eventos e feiras com Ana das Carrancas e Marinalva Rufino (A Luz Divina), ambas de Petrolina. J. Borges, Dilá, José Costa Leite, Abraão Batista, Stênio Diniz xilógrafos e cordelistas, de Pernambuco e Ceará. Lia de Itamaracá e Dona Duda, em suas cirandas e cirandar... Tog e Zezinho de Tracunhaém, santeiros de Pernambuco. Mestre Noza e o grande Patativa do Assaré, inesquecíveis. Já na era da internet, sites maravilhosos possibilitam encontros com pesquisadores, estudiosos e fazedores de diferentes manifestações e fatos folclóricos. A socialização de conhecimentos passa a ser virtual.

Como há muito citou o Mestre Luís da Câmara Cascudo, o folclore representa as maneiras diversas do pensar, sentir e agir do povo. Referem-se à produção humana, algumas vezes contestada pelo saber dominante, mas, igualmente valiosa e formadora da identidade cultural. Basta citar que Santos Dumont, no início do século passado e talvez o homem que detinha mais conhecimento científico à época, construiu em sua casa uma escada pela qual só se subia e descia com o pé direito – mundialmente conhecido para dar sorte. Do mesmo modo, que o primeiro astronauta, ao pisar na lua, conquistando para a humanidade novos espaços geográficos, deixou a marca de seu pé direito... Em ambos exemplos, registros de ignorâncias? Crendices? Coincidências? Ou a comprovação da presença do folclore nosso no dia-a-dia?



http://www.jangadabrasil.com.br/revista/setembro94/especial22.asp

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