sábado, 9 de maio de 2009

A LITERATURA DE CORDEL É COMUNICAÇÃO - uma entrevista


Banca de Folhetos do Sr. Nado na Feira de Gravatá/PE

A LITERATURA DE CORDEL É COMUNICAÇÃO
Thelma Regina Siqueira Linhares

Por: Rodrigo Capella*

Thelma Regina Siqueira Linhares
A Literatura de Cordel veio ao Brasil, juntamente com os portugueses, que utilizavam os manuscritos para propagar idéias. Mas, só alguns anos mais tarde - é difícil se precisar a data -, esse tipo de expressão artística se fixou no Nordeste, tornando-se um forte elemento cultural da região.
Para desvendar essa literatura, que tem uma oralidade tão particular, o Caleidoscopio.art conversou com a pesquisadora Thelma Siqueira Linhares, que já teve vários trabalhos publicados pela Fundação Joaquim Nabuco.
Durante a conversa, Thelma destacou quais são as características da Literatura de Cordel; disse que ela está muito representada em estados como Alagoas, Ceará e Pernambuco; e afirmou que esse tipo de expressão artística deveria ser mais valorizado no Brasil. Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Rodrigo Capella: Podemos dizer que a Literatura de Cordel tem características próprias?
Thelma Linhares: A Literatura de Cordel é comunicação. Expressão maior da cultura popular. Inicialmente, só oralidade. Com o passar dos séculos, impressa, sem jamais fugir de suas origens. Justificando as diferenças entre poeta popular (o artesão da palavra), o cantador (atende ao mercado, fazendo uso de qualquer estilo) e o repentista (o que improvisa, aceita desafios. Geralmente trabalha em dupla, fazendo-se acompanhar por viola ou pandeiro). O nome Literatura de Cordel foi introduzido na década de 70, do século passado, em alusão ao cordão (cordel) onde os folhetos eram expostos para venda. Materialmente, o folheto é simples e obedece um padrão motivado pelo barateamento dos custos: uma folha de papel jornal, dobrada em quatro, 8 folhas com o texto impresso. Quanto ao número das estrofes, as mais comuns são: sextilhas(estrofes de seis versos), septilhas (com sete linhas), décimas (com dez versos). Freqüente, o martelo agalopado e o folheto que gira em torno de um mote. A capa, com a impressão da xilogravura, em geral é no papel colorido, para realçar o preto da imagem gravada. Dependendo do tema versado, pode definir uma classificação: fatos e acontecimentos reais, de Lampião, religiosas (Padre Cícero e Frei Damião), da seca, etc. O número de páginas, pode ser enquadrado no folheto propriamente dito ou romance (maior número de página).

RC: Em quais regiões do Brasil a poesia de Cordel tem mais força? Por quê?
TL: A Literatura de Cordel hoje, como no passado, tem mais força na Região Nordeste. Em especial, nos Estados de Alagoas, Ceará (Barbalho, Crato, Juazeiro do Norte), Paraíba (Campina Grande, Guarabira, João Pessoa) e Pernambuco (Bezerros, Caruaru, Condado, Goiana, Recife e Olinda). Nesses Estados vivem ou editam os poetas populares e os xilógrafos, que produzem as capas dos folhetos e romances. São Paulo, por concentrar um número grande de migrantes nordestinos, também, pode ser considerada pólo de irradiação da Literatura de Cordel. E por que isso aconteceu e ainda ocorre? A vida do campo, com suas peculiaridades, belezas e tragédias foram e são fontes de inspiração para o poeta popular. Uma população quase sempre analfabeta ou semi-analfabeta, com poucas opções de lazer e entretenimento, favorece a presença da Literatura de Cordel, embora, consenso, esse público tradicional vem se transformando ao longo de décadas e do mote "da morte anunciada e próxima do folheto", por causa da popularização de outras mídias: o jornal, o rádio, a televisão e, mais recentemente, o computador e a internet. Felizmente, o que se observa é a presença da Literatura de Cordel nessas mídias de massa, nos eventos culturais, feiras de artesanato e Congressos diversos. São temas de estudos acadêmicos e de pesquisas científicas, no Brasil e no exterior. Apresenta uma capacidade de renovação. As novas gerações de poetas populares, de cantadores e repentistas provam sua forçarevigorada.

RC: Em sua opinião, a poesia de Cordel deveria ser mais valorizada? Por que?
TL: Com certeza! Porque a Literatura de Cordel é comunicação e poesia. Também é arte. Abre espaço para um número de profissionais envolvidos no processo: o poeta (que escreve), o xilógrafo (que cria as capas), o gráfico (que imprime os folhetos), o folheteiro (que vende). Muitas vezes, essas funções estão concentradas na mesma pessoa. Músicos, atores, jornalistas, professores, escritores são outros profissionais que podem utilizar a literatura de cordel, enriquecendo suas atividades. A função jornalística e educativa do folheto não pode ser minimizada. Como não lembrar A Triste Partida do grande Patativa do Assaré, imortalizada na voz de Luiz (Lua) Gonzaga? Como não citar Paisagem do Interior, declamada por Jessier Quirino? Só para citar dois exemplos, em épocas diferentes.
RC: Quais cordelistas se destacam atualmente e por quê?
TL: Antecipadamente, peço desculpas pela omissão de muitos e muitos nomes, não citados, que, com certeza, renovam e valorizam a Literatura de Cordel. Os nomes aqui escolhidos, escrevem há décadas. Perderam a conta de quantos folhetos produziram. Estão sempre antenados aos fatos e acontecimentos do cotidiano, sem esquecer do imaginário, do consciente coletivo. Dos causos e temas encantados. Abraão Batista. Vive no Juazeiro do Norte/CE. Cordelista e xilógrafo. Em 2005 publicou uma trilogia sobre os escândalos políticos do país. Presente a eventos, feiras de artesanato e congressos. Dilá. Vive em Caruaru/PE. Xilógrafo e cordelista. Borges. Vive em Bezerros/PE. Xilógrafo e cordelista. Participa de feiras de artesanato, congressos e eventos culturais. José Costa Leite. Condado. Goiana/PE. Cordelista e xilógrafo. Vende, semanalmente, nas feiras de Itambé e Itabaiana. Stênio Diniz. Juazeiro do Norte/CE. Xilógrafo e cordelista.

(*) Rodrigo Capella é poeta, escritor e jornalista. Autor de vários livros, entre eles, "Transroca, o navio proibido", que vai ser adaptado para os cinemas pelo cineasta Ricardo Zimmer. Informações: www.rodrigocapella.com.br


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2 comentários:

Thelma Regina Siqueira Linhares disse...

Rodrigo Capella: visite seu site oficial www.rodrigocapella.com.br

Anônimo disse...

Gostei muito do seu blog e também da entrevista, da maneira como voce valoriza a cuktura popular, no caso a literatura de cordel.
Meu nome é Augusto Secundino, sou artesão e cordelista.
Gostaria que visitasse meu blog e se possível ler algun de meus cordéis.
cordeisecordelistas.blogspot.com
Obrigado.