sábado, 22 de maio de 2010
SUPERSTIÇÕES NO FUTEBOL
SUPERSTIÇÕES NO FUTEBOL
Thelma Regina Siqueira Linhares
Com mais de um século de brasilidade, pois foi introduzindo em nossas terras em 1894, por Charles Miller, é o futebol o esporte de preferência nacional, constituindo, juntamente com o “carnaval, o gole de cachaça e o jogo do bicho (...) as paixões do povo brasileiro”, conforme afirmam Gilberto Freyre e Mário Souto Maior (1)
As práticas supersticiosas no futebol são variadas em tipos e intensidade. “Promessas, despachos, benzimentos, comportamentos e atitudes que se padronizam e se repetem de vitória em vitória, pois deram sorte, fazem parte do arsenal de recursos que cada time procura acumular”, como assinalou José Paulo Carneiro Vieira. (2)
Eis o cadastro de superstições do futebol brasileiro conseguido a partir de uma pesquisa que compreendeu cento e cinqüenta questionários enviados, para levantamento dos dados, a pessoas de diferentes Estados brasileiros. Destes questionários, cento e vinte foram devolvidos devidamente preenchidos o que possibilitou tal trabalho.
Superstições do futebol brasileiro
Jogador entrar com o pé direito.
Jogador entrar com o pé esquerdo
Jogador usar a camisa com o número treze.
Jogador se benzer antes do jogo
Jogador dizer que vai fazer o gol e conseguir marcá-lo.
Jogador com galho amoroso sempre joga bem.
Jogador tocar na grama e se benzer.
Jogador apanhar tufos da grama e jogá-los sobre os ombros.
Jogador apanhar tufos de grama e jogá-los para os lados.
Jogador bater com a ponta da chuteira no chão, três vezes, antes de qualquer cobrança de falta.
Jogador tomar banho de mar, às sextas-feiras, à meia-noite, de preferência nu, afirmando que acaba mau-olhado e reza feita por adversário.
Posição em determinados times, como por exemplo, ponta-direita no Vasco da Gama, que já foi considerada amaldiçoada.
Substituição de um zagueiro durante a partida.
Substituição de um atacante durante o jogo.
Substituição de um armador do meio-de-campo durante o jogo.
Goleiro se benzer.
Goleiro benzer a barra ao entrar no campo.
Goleiro bater três vezes na trave com a chuteira antes do início do jogo.
Goleiro não bater bola antes do início do jogo preferindo ficar debaixo da trave.
Goleiro não sair de campo por trás da barra e, sim, pelas laterais.
Goleiro dar três tapinhas no travessão antes do jogo.
Goleiro encostar o pé direito em cada uma das balizas e fazer um sulco com a chuteira no meio da pequena área.
Goleiro tocar nas duas traves ao ingressar no gramado.
Goleiro entrar com uma toalha enrolada, na disputa de campeonato e colocá-la no lado direito do gol.
Goleiro dar coices nas traves.
Goleiro cuspir nas barras.
Goleiro dar uma volta completa em torno do juiz, batendo bola.
Goleiro beijar as traves.
Goleiro botar bolinhas de algodão nas traves
Goleiro iniciar o jogo na sua barra predileta.
Time que entra primeiro que o adversário, não ganha a partida.
Time grande não perde duas partidas consecutivas.
Time iniciar jogando no seu campo predileto.
Time que ganha o torneio no início não tira o campeonato.
Time usar o uniforme completo.
Time usar o uniforme que dá sorte.
Time que ganha não deve ser mudado.
Dois times grandes jogando por um empate, sempre ganha o que está em posição inferiorizada no campeonato.
Time preferir determinada vestiária, disputando-a sempre.
Time grande temer determinado time pequeno pois, na disputa, perde o jogo.
Time jogar mal quando o tempo está chuvoso.
Nas decisões estaduais, os clubes alvi-negros têm maior probabilidade de vencer.
Clube possuir os melhores jogadores, na decisão, tende à derrota.
O tabu do Grêmio porto-alegrense de não tirar campeonato.
O azar do Ferroviário de não ganhar do Ceará.
O Palmeiras não usa seu uniforme azul quando disputa o título de campeão paulista com o Corínthians, pois perde.
O Corínhthians não gosta de jogar com a camisa listrada.
O Corínthians tirar o campeonato paulista após vinte e três anos, pois fora enterrado um sapo de boca amarrada no Parque São Jorge.
O Fortaleza não entrar em campo primeiro que o adversário.
O Ferroviário jogar com o uniforme de listas verticais.
O Atlético Mineiro perde quando joga aqui, em Recife.
Em jogos de Copa do Mundo, o time que faz o primeiro gol na decisão, sempre perde.
Treinador jogar um pó mágico antes do jogo.
Treinador vestir sempre a mesma roupa.
Treinador usar, durante os treinos, a camisa de número treze.
Técnico aguar a vestiária com água e sal e, em seguida, acender velas.
Torcedor entrar em campo se benzendo.
Torcedor fazer uma cruz com os dedos quando o time entra em campo.
Torcedor fazer uma cruz no chão.
Torcedor fazer figa com as mãos.
Torcedor soltar, na véspera de uma partida, duas pipas com as cores dos times: a que sobrevoar é sinal de que o time ganhará.
Torcedor levar uma caixa de fósforo.
Torcedor manter os dedos em figa durante todo o jogo.
Torcedor ficar calado durante todo o jogo.
Torcedor vestir roupas brancas.
Torcedor assistir os jogos sempre no mesmo lugar.
Torcedor repetir o mesmo comportamento que teve por ocasião da última vitória do seu time.
Torcedor dar nó na camisa de seu time ao sair para o estádio.
Cachorros dentro do campo dão sorte.
Macumba.
Acender velas no vestiário.
Vela acesa junto a uma garrafa de aguardente, num campo do gramado.
Sapo enterrado no campo e com a boca costurada dá azar para o time.
Urubu pousado na concentração do clube dá azar.
Levar velas, galinha preta e urubu para o campo.
Rezar e fazer promessas.
Sonhar com as cores do clube, na véspera do jogo, dá azar para o mesmo.
Sonhar com o animal, símbolo do clube, dá sorte.
Acender velas em volta do círculo central do gramado.
Jogador prestes a aniversariar não pode realizar boa partida.
Técnico queimar álcool nas portas dos vestiários.
Presença do pé-frio, jogador, técnico, torcedor, etc.
Time conservar o mascote durante todos os jogos, como por exemplo, o cãozinho Biriba, do Botafogo, há alguns anos.
Práticas supersticiosas relacionadas com o uso de objetos
Torcedor levar ao campo bandeira, escudo bengala e /ou chaveiro com as cores do time
Torcedor levar retratos dos jogadores.
Torcedor levar charanga ou buzina para o campo.
Torcedor levar ao estádio uma garrafa d’água com as cores do time.
Torcedor, jogador ou técnico usar medalhinhas, amuletos, patuás, colares, fitinhas, anéis, pulseiras, figas ou talismãs.
Torcedor usar , durante a partida, o relógio no pulso contrário ao de uso normal.
Torcedor soltar fogos ou papel picado dentro do estádio.
Torcedor levar rádio para o campo e conservá-lo invertido durante o jogo.
Torcedor levar uma figa com uma joaninha.
Torcedor levar animais para o campo.
Torcedor ou técnico levar imagens para o estádio.
Torcedor ir ao campo vestido com as cores do time levando um penico na cabeça e rezando uma oração não muito louvável...
Torcedor levar objetos vários, como por exemplo, lenços perfumados, charutos holandeses, binóculos, óculos, caixa de fósforo, revistas, tamancos, charutos, canetas, etc.
Torcedor ou técnico usar pés de coelhos.
Práticas supersticiosas relacionadas com o vestuário
Torcedor ir ao campo sempre de roupa branca ou preta.
Torcedor vestir o fardamento completo do seu time.
Torcedor usar alguma peça do vestuário com as cores do time.
Torcedor ou jogador usar alguma peça de roupa pelo avesso.
Torcedor ou jogador usar a mesma roupa durante o campeonato.
Torcedor dar um nó no lenço ou num cordão para amarrar os jogadores.
Torcedor não usar roupa preta para assistir o jogo.
Torcedor virar a manga da camisa durante o jogo.
Jogador usar a mesma sunga durante o campeonato.
Jogador preferir determinado número para sua camisa.
Práticas supersticiosas relacionadas com a alimentação
Torcedor comer alimentos leves no dia do jogo.
Torcedor não comer doces durante a partida.
Torcedor ficar de jenjum durante o dia todo para dar sorte ao time.
Torcedor tomar refrigerantes durante o jogo.
Torcedor chupar picolé ou laranja durante a disputa.
Torcedor beber cerveja antes do jogo.
Torcedor comer alimentos pesados no dia do jogo.
Torcedor alimentar-se apenas de verduras e sucos nos dias de decisões do time.
Torcedor alimentar-se só de líquidos nos dias dos jogos.
Torcedor alimentar-se só de sólidos nos dias dos jogos.
Torcedor evitar determinadas comidas no dia do jogo, por exemplo, macarronada e alimentos de cor verde quando joga o Palmeiras e peixe quando joga o Santos.
Práticas supersticiosas relacionadas com a loteria esportiva
Jogar com base no resultado anterior.
Marcar o cartão sem saber quais as equipes em questão.
Marcar o cartão fazendo um zigue-zague ou uma letra do alfabeto (M, W, T e Y).
Marcar o cartão na coluna que menos freqüência teve na semana anterior.
Pedir palpites aos despachantes das casas lotéricas.
Apostar nos times mais fracos.
Marcar o cartão alternando a colunas.
Fazer jogo duplo quando há probabilidades de zebra.
Usar o método gráfico para marcar as colunas ficando o desenho simétrico em relação ao jogo.
Usar o nome do santo favorito e preencher o cartão pelo número correspondente às letras que formam o nome do mesmo. Por exemplo: José. O j corresponde à décima letra do nosso alfabeto, no jogo de número quatro, marca-se a coluna do número um.
Jogar pela intuição.
Marcar o cartão através de sonhos.
Marcar o cartão porque achou o nome de determinado clube mais bonito.
Apostar nos clubes das colunas um e dois.
Apostar nos clubes das colunas dois e do meio,
Marcar pelo cartão da semana anterior.
Marcar os jogos pelo resultado invertido dos jogos anteriores.
Marcar os jogos pedindo palpites a treze pessoas diferentes.
Colocar três pratos contendo carne e correspondendo às três colunas, fazendo com que um cachorro se aproxime e coma um dos pedaços de carne.
Marcar três linguiças para um cachorro escolher uma delas.
Marcar o cartão após pedir proteção ao santo preferido.
Marcar o cartão em uma só coluna variando, apenas, no duplo.
Marcar o cartão no chute, sem atenção.
Mandar uma criança ou uma pessoa idosa marcar o cartão.
Fazer o sorteio entre as três colunas através de trinta e nove papéis.
Usar o mesmo cartão que jogou na primeira vez.
Marcar um cartão só de zebras.
Seguir os palpites da imprensa.
Marcar o cartão através do jogo de dados.
Marcar o cartão através da porrinha – jogo de palitos.
Apostar sempre no Fluminense, no Colorado e no Internacional.
Apostar jogo duplo no Corínthians.
Não apostar no Corínthians.
Jogar nos palpites desprezados por outros apostadores.
Mandar alguém, que não entende de futebol, marcar o cartão.
Usar recursos matemáticos e estatísticos (combinações, permutas) para marcar o cartão.
Marcar o cartão alternando as colunas, isto é, de três em três jogos troca-se de coluna.
Conclusão
Em conseqüência de sua formação histórica, o povo brasileiro é bastante supersticioso. Fazendo parte da herança cultural, as práticas supersticiosas estão presentes nas ações do dia-a-dia. E, como o futebol é o esporte de maior aceitação popular, o uso e difusão de práticas supersticiosas neste esporte são bastante acentuadas.
Observa-se uma influência significante da superstição no comportamento de jogadores ou torcedores que, muitas vezes, não percebem tal influência. Em alguns casos, as superstições chegam a ser, inclusive, opostas, como por exemplo entrar com o pé esquerdo em campo, para uns motivo de sorte e para outros, de azar. Um mesmo comportamento pode, também, se revestir de duplo significado, enquanto para determinada pessoa é presságio de boa sorte, para outras é mau agouro. Há ainda aquelas que o rejeitam ou ignoram. E ai se encontra a riqueza e diversidade das superstições do futebol brasileiro.
Referências bibliográficas
(1) FREYRE, Gilberto e SOUTO MAIOR, Mário. Carnavais. São Paulo, História, (9):81-
fevereiro, 1974.
(2) VIEIRA, José Paulo Carneiro. Ritual Patropi: algumas considerações em torno da corrente pra frente. Revista de Administração de Empresas. Fundação Getúlio Vargas, 12 (13), setembro, 1972.
EM TEMPO: Esta pesquisa foi realizada na década de 70, portanto já se vão 30 anos... E quanta coisa mudou, desde então! Nos valores pessoais e sociais. Na ética. Nas comunicações. O futebol continua sendo preferência nacional esportiva, apesar de seus altos e baixos.
A bela ilustração é de Lula Gonzaga, da Comissão Pernambucana de Folclore.
Inicialmente, foi publicada na série micromonografias de FOLCLORE, da Fundação Joaquim Nabuco.
Foi incluída na revista on line Jangada Brasil de julho/2001, ano III – nº 35 (www.jangadabrasil.com.br), www.usinadeletras.com.br (em 02/03/2002) e, também, no site http://www.educacaopublica.rj.gov.br/suavoz/0060.html
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