sábado, 15 de fevereiro de 2014

Getrudes: hoje É SAUDADE


Getrudes: 89 anos e 7 meses

Hojé É saudades!!! E agradecimentos!

Reedito post de 2008
http://thelmaregina.blogspot.com.br/2008/08/ela-pernambucana.html

Publicação anterior, em 2002, no site Usina de Letras.
Crônicas-->Ela é pernambucana -- 16/02/2002 - 19:17 (Thelma Regina Siqueira Linhares)

http://usinadeletras.com.br/



Ela é pernambaucana
Thelma Regina Siqueira Linhares

Ela é pernambucana, portanto brasileira. 
E brasileira bem típica: Mulher. 
Pobre. 
Idosa. 
Aposentada. 
Nunca frequentou escola. Lê muito pouco e escreve desenhando o próprio nome. Nascida no interior -Paudalho -, numa época em que as escolas rurais eram raridade, em que meninas pobres não tinham direitos defendidos e que a própria família não valorizava os estudos - saber ler era coisa de ricos. 
Ela é pernambucana, portanto brasileira. 
E brasileira bem típica: Mulher. 
Pobre. 
Idosa. 
Aposentada. 
Adolescente, ainda, migrou para a cidade grande - Recife - a capital pernambucana. Sem qualificação foi trabalhar na casa dos outros. Cozinhar. Lavar. Arrumar. Tomar conta de crianças. Uma maratona diária, mal paga, sem prestígio e sem status. 
Ela é pernambucana, portanto brasileira. 
E brasileira bem típica: Mulher. 
Pobre. 
Idosa. 
Aposentada. 
Há mais de cinqënta anos está ligada a uma mesma família. Sentiu na pele, por décadas, os tabus e preconceitos de ser doméstica. Mas quatro gerações aprenderam a amá-la e respeitá-la pela sabedoria que tira do dia-a-dia e da própria experiência, pois a vida lhe ensinou quase tudo o que sabe. 
Ela é pernambucana, portanto brasileira. 
E brasileira bem típica: Mulher. 
Pobre. 
Idosa. 
Aposentada. 
E que ainda sonha. Com mais que o salário-mínimo na aposentadoria. Com uma casinha. Com a saúde e possibiidades de comprar remédios. Com o respeito a direitos elementares, como por exemplo, subir no ônibus, ao dar, ela própria, sinal de parada. 
Ela é pernambucana, portanto brasiliera. 
E brasileira bem típica: Mulher. 
Pobre. 
Idosa. 
Aposentada. 
E, ainda: Madrinha. 
Mãe de criação. 
Avó de coração. 
Obrigada, Dinha! 
E que Deus a abençoe, eternamente!

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