quinta-feira, 5 de junho de 2014

MAIS QUE UM SIMPLES ESPELHO D’ÁGUA / Thelma Regina Siqueira Linhares




MAIS QUE UM SIMPLES ESPELHO D’ÁGUA (*)
Thelma Regina Siqueira Linhares (**)
    

M
ais que um simples espelho d’água a refletir belezas urbanas, o rio Capibaribe, poderia ser a imagem do respeito ao meio-ambiente, o símbolo do desenvolvimento sustentável de um povo que há muito se auto-proclamou “leão do norte”.

Verdade que, em sua nascente no Agreste, é frágil e cristalino e, à medida que corre em direção às águas tépidas do Oceano Atlântico, banhando dezenas de cidades e paisagens pernambucanas, tem seu leito acrescido por mais de meia centena de afluentes. E vai ficando forte, imponente e... poluído. Especialmente nesse último século, sentiu a degradação em suas próprias águas a repercutir, ainda, neste milênio. O desenvolvimento urbano, o aumento populacional, o progresso e a falta de políticas públicas que visem à melhoria da qualidade de vida e o respeito ao meio-ambiente, entre outros fatores, são refletidos em suas águas. Adoecendo-as. Poluindo-as.
  
Mais que um simples espelho d’água a refletir belezas urbanas, o rio Capibaribe, merecia ser mais que cartão postal a percorrer o planeta, em cujas imagens não captam suas águas fétidas, seu frágil ecossistema minado por esgotos, seu manguezal aqui e ali buscando sobreviver... Assim, fotografado, filmado, postado, incorporado às lembranças e eventos turísticos, o mais recifense dos rios pernambucanos, segue o seu destino. Único e múltiplo em si mesmo.

Mais que um simples espelho d’água a refletir belezas urbanas, o rio Capibaribe, deveria ser a inspiração maior de poetas pernambucanos que buscaram e buscam na natureza a melhor palavra. Favorecer alumbramentos, sempre! E não mais ser a trilha de Severinos e Severinas.

Mais que um simples espelho d’água a refletir belezas urbanas, o rio Capibaribe, deveria participar, efetivamente, da vida de um povo, com seus acertos e desacertos históricos. Testemunhando. Interagindo. Influindo. Presente na construção cultural dos que aqui habitam e dividem o espaço geográfico com o rio das capivaras. Antes que seja, definitivamente, descapibaribado.

(*) Texto classificado em 2º lugar no 1º Concurso de Contos e Crônicas Luis Jardim (2003), promovido pela Biblioteca Popular de Casa Amarela e Prefeitura da Cidade do Recife.

(**) Professora, pesquisadora do folclore brasileiro e escritora.


Mais que um simples espelho d'água publicado  em http://usinadeletras.com.br, em Crônicas, 11/01/2004.





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