CAPIBA (Circuito dos poetas) - foto arquivo pessoal
reeditando texto publicado em 18/02/2006 na
e neste próprio blog
ENTRE CONFETES E SERPENTINAS,
O CARNAVAL DE PERNAMBUCO É DEMAIS!
Thelma Regina Siqueira Linhares (*)
Algumas características no carnaval de Pernambuco são
inquestionáveis: a alegria e a irreverência do folião, a duração da festa, que ultrapassa o
tradicional tríduo momesco e a multiculturalidade das manifestações desse
ciclo. Igualmente, unanimidade: Pernambuco é a terra do frevo e do maracatu, é
a pátria dos bonecos gigantes e dos papangus, tem o maior bloco de rua do mundo
e o maior carnaval participativo, entre outras peculiaridades. Apenas, quando
se questiona preferências, é que as divergências aparecem. Qual o melhor
carnaval – o de hoje ou o do passado? Qual o melhor frevo de todos os tempos?
Qual o bloco mais animado? Quem mais compôs músicas de carnaval? Qual o mais
animado ritmo carnavalesco? Difíceis conclusões. Isso acontece porque gosto não
se discute... afinal, o que seria do vermelho se todos gostassem do amarelo? O
importante é viver o carnaval na paz, sem excessos e violências, com
responsabilidades porque, antes de 365 dias, novo carnaval de novo!... para
alegria dos foliões e folionas, que para essas terras migram.
Para conhecer ou reviver o carnaval de Pernambuco é
interessante um breve passeio na História, antes mesmo do formato pelo qual
entendemos carnaval hoje. Povos antigos festejavam seus deuses com músicas,
bebidas e luxúrias. Eram rituais que reverenciavam a terra e sua fertilidade,
celebravam a volta da primavera, comemoravam vitórias guerreiras e conquistas
de povos. Muitas vezes, estavam associadas a fenômenos astronômicos e a ciclos
naturais. Grécia, Roma e Egito, apenas para citar as grandes civilizações da
Antiguidade, tinham os seus rituais e festejos comemorativos. Na Era Cristã, a
Igreja Católica, deu nova formatação aos antigos rituais pagãos, fazendo-os
coincidir com datas predeterminadas do seu calendário, na tentativa de punir
abusos, moralizar costumes e difundir a fé cristã. As comemorações começavam,
então, no ciclo natalino e terminavam, exatamente, na Quarta-feira de Cinzas,
quando iniciava a Quaresma - período de quarenta dias de dor e jejum em
preparação à Semana-Santa e à Páscoa. Na época das Grandes Navegações, com a
conquista e expansão européia nos continentes americano e africano, o carnaval,
mais precisamente, o entrudo, também, foi importado, imposto e, depois
aculturado pelos povos pagãos conquistados.
No Brasil, o que seria o Carnaval chegou como entrudo,
herança portuguesa, desde os primórdios da colonização. Festa violenta e de
muitos excessos e atrocidades. Verdadeira selvageria e barbárie, onde o
encontro de grupos rivais terminava sempre em brigas, ferimentos e mortes. No
período colonial, as Capitanias Hereditárias que deram certo - Pernambuco e São
Vicente (São Paulo) - podem ser consideradas como os pólos nascedouros do
entrudo brasileiro. Depois, a Bahia - primeira capital da colônia - e o Rio de
Janeiro, capital escolhida para sede do governo da família real no Brasil e,
posteriormente, capital do Brasil-Império e República (até 1960) difundiram as
manifestações culturais da época. Por um longo espaço de tempo, o Rio de
Janeiro monopolizou o carnaval brasileiro, ditando moda em termos de fantasias
e concursos, marchinhas carnavalescas e difusão do samba. O desfile das Escolas
de Samba, naquele Estado, é um mega espetáculo, tipo exportação e, há décadas,
desperta interesse dos diferentes meios de comunicações de massa. Também, verdade,
que hoje, o carnaval apresenta várias faces e pólos de animação, que, difundido
pela mídia e explorado pelo turismo interno e externo, trata-se, com certeza,
de uma das mais fortes referências de Brasil e de brasilidade.
Foi no século XIX, que o entrudo passou a ganhar mais espaço
no Brasil, coincidindo com seu declínio na Europa. Os escravos, molhados,
jogavam, entre si, ovos, laranja podre, farinha, restos de comida. As famílias
brancas, se divertiam jogando água suja e até xixi nos passantes. Os ricos se
divertiam em locais fechados, sob a influência direta da moda ditada na corte.
A violência, praticados por muitos e independente da classe social, era
intensificada no período. A repressão policial era forte na expectativa de
coibir os excessos. Muitas manifestações populares eram consideradas marginais
ou ficavam na clandestinidade. Aos poucos, o entrudo foi se modificando, se
civilizando. Novos feitios e comemorações foram sendo incorporadas. As pequenas
e grandes invenções dos séculos XIX e XX foram transportadas para as festas de
Momo, contribuindo para tornar o carnaval no que conhecemos hoje, o ciclo de
festejos e comemorações mais popular entre os próprios brasileiros e mais
divulgado no estrangeiro. Bailes de máscaras a partir de 1840. Limões de cheiro
(pequenas bolas de cera cheias de água perfumada) e frascos de borrachas cheias
de vinho, groselha ou vinagre, precursores dos lança-perfume, esses
introduzidos em 1885. O corso, correspondendo aos desfiles de carros alegóricos
puxados a cavalos (charretes, cabriolés e aranhas) e que se popularizou a
partir de 1889, antes mesmo do surgimento do automóvel. A modinha Ô Abre Alas,
de Chiquinha Gonzaga e que foi registrada, oficialmente em 1889, como a
primeira música carnavalesca, literalmente, abriu espaço para os diferentes
ritmos e canções carnavalescas. O surgimento e evolução dos meios de
comunicações de massa (o rádio, as gravações em discos, as transmissões
televisivas, a internet e o celular, juntamente com a invenção e modernização
dos meios de transportes coletivos, encurtaram cada vez mais as distâncias e
facilitaram a ida e vinda dos foliões dos quatro cantos da Terra, permitindo
que o planeta seja uma aldeia global, também na folia.
O carnaval de Pernambuco recebeu todas essas influências
históricas, culturais e sociais personalizado-as. É multicultural. A
pluralidade, valorizando ainda mais o carnaval nessas terras do Leão do Norte,
tem a diversidade cultural costurada pela alegria e animação, sendo possível
observar a miscigenação das raças formadoras do povo brasileiro e, aqui e ali,
uma pitada de novas influências refletidas nos ritmos, danças, agremiações,
blocos, culinária e bebida típicas.
“Quem é de fato, bom pernambucano
Espera um ano pra cair na brincadeira.
Esquece tudo quando cai no frevo
E no melhor da festa
Chega a quarta feira.”
A palavra frevo vem de ferver, “frever”, na pronúncia
simples do povo, para o significado de fervura, efervescência, agitação -
adjetivos para os foliões que se juntavam nas primeiras agremiações e pipocavam
ao som das bandas de músicas que tocavam dobrados, polcas, marchinhas até
surgir o frevo propriamente dito, enquanto gênero musical. O frevo é dança e é
música, genuinamente pernambucano. A coreografia da dança recebe o nome de
passo e é muito variada: parafuso, saci-pererê, boneco de Olinda, tesoura,
saca-rolha, do caroá, etc. Passista, independente do gênero, é quem dança, em
geral, acompanhado pela pequena e colorida sombrinha de frevo, que ajuda a
manter o equilíbrio. Nos tempos do entrudo, o passista era um capoeirista, que
jogava capoeira abrindo caminho - alas - para o frevo passar e protegendo os
músicos da multidão que frevava frenética. O nome frevo foi adotado no início
do século XX, mas foi na década de 30, que se definiram as três principais
modalidades de frevo: Frevo-de-Bloco (cuja origem está ligada às antigas
serenatas, sendo acompanhado por uma orquestra de Pau e Corda), Frevo-Canção
(que apresenta uma introdução forte, à base de metais, seguida da canção) e
Frevo-de-Rua (somente instrumental, predominando os metais). A presença da
orquestra é essencial para a execução do frevo e o compositor de frevo tem de
ser músico ou ter parceria ao escrever a pauta musical, pois, ao compor, tem
que definir o que cabe a cada seção instrumental de uma orquestra ou banda.
Inspiração e poesia, nesse caso, não é suficiente...
Vivenciar o carnaval de Pernambuco, experimentando todos os
seus ritmos, danças e cores, talvez seja o maior desafio que o folião de fôlego
enfrenta. Como já citado, o carnaval aqui é plural, multicultural. E onde quer
que se vá - Litoral, Zona da Mata, Agreste ou Sertão - a alegria será uma
constante e a saudade, em breve, uma doce lembrança.
“Na madrugada do terceiro dia
Chega a tristeza e
Vai embora a alegria
Os foliões vão regressando
E o nosso frevo, diz adeus a folia...
... A gente sente uma saudade sem igual
Que só termina
Com um novo carnaval.”
RECIFE
Atualmente, o que mais caracteriza o carnaval da capital
pernambucana é uma tríade de manifestações: o frevo, o maracatu nação e o
maracatu rural. A essa pluralidade de ritmos, músicas e danças acrescentam-se
blocos, caboclinhos, tribos de índios, a la ursa, bois e ursos de carnaval e
escolas de samba. Além de refletir a dinâmica dos costumes, valores e modismos,
o carnaval se reinventa e se recria num ritmo próprio. Assim, já se foi a época
dos bailes nos principais clubes sociais, onde o folião se esbaldava em quatro
noites de folias, manhãs de sol e matinês para a garotada, sob a batuta dos
maestros famosos que comandavam orquestras ao som de frevo, cirandas, sambas e
marchinhas de carnaval. Os bailes, hoje, restringem-se a algumas prévias
carnavalescas, destacando-se, em 2006, o 58º Bal-Masquê, o 42º Baile Municipal
e o 28º Baile dos Artistas, onde a tradição dos concursos de máscaras e
fantasias é mantida.
“Ei pessoal, vem moçada
Carnaval começa no Galo da Madrugada. (BIS)
A manhã já vem surgindo,
O sol clareia a cidade com seus raios de cristal
E o Galo da Madrugada, já está na rua, saldando o Carnaval”
Mas, é o Clube de Máscaras Galo da Madrugada que fez seu
primeiro desfile em 1978, para reviver os carnavais do passado, que se tornou a
expressão maior do carnaval de Recife. A agremiação, que mantém o título de
maior bloco de rua no Guinness Book há mais de uma década, literalmente, invade
as principais ruas e pontes do centro da cidade, no sábado de Zé Pereira,
arrastando uma multidão de milhares de foliões, brincantes, simpatizantes ou
trabalhadores do carnaval, ao som de freviocas, orquestras de frevo e trios
elétricos tocando, exclusivamente, os ritmos de Pernambuco. Inclusive, as águas
da bacia do rio Capibaribe servem de passarela para o bloco A Galinha D’Água
que acrescenta mais beleza ao desfile anual do Galo da Madrugada.
“É da coroa imperial
É maracatu
Ele é da casa real.”
Os Maracatus de Baque Virado ou Maracatu Nação, cujas
origens remontam às tradições de coroação dos reis de Congo e Angola, foram
descritos desde o início do século XVIII. É a expressão mais forte do
sincretismo religioso e cultural entre o branco dominador e o negro
escravizado. O Rei e a Rainha, ricamente vestidos e coroados, são protegidos
por um grande pálio, segurado por um Escravo, que o faz girar, simbolizando o
movimento da Terra. Acompanhando-os há as Damas do Paço, algumas segurando as
Calungas, que são bonecas de origem religiosa. Outras figuras da corte
aparecem: Príncipe, Princesa, Duque, Duquesa, Embaixador e Baianas. Às vezes,
incluem Caboclo de Pena (representando o índio brasileiro) e Meninos Lanceiros
vestidos como guardas romanos. A orquestra do Maracatu Nação é composta por
instrumentos de percussão (alfaias, zabumbas, taróis, caixas, ganzás, etc.) que
tocam num ritmo compassado, que vai acelerando, enquanto uma corneta ou clarim
anuncia a apresentação do Estandarte. A coreografia do Maracatu Nação é típica,
com movimentos de mãos e braços acompanhando os batuques da percussão. A Noite
dos Tambores Silenciosos acontece na segunda-feira de carnaval, em frente à
Igreja do Pátio do Terço, quando a percussão de todos os maracatus silencia, à
meia-noite, em reverência à Nossa Senhora do Rosário (padroeira dos negros) e a
São Benedito, reforçando às origens afro-brasileiras do Maracatu de Baque
Virado.
O Urso do Carnaval tem uma composição muito simples: o urso
(um homem vestido por um velho macacão coberto de estopa que usa uma máscara
feita de papel-machê) e o domador (que segura a corda que prende o urso). Dançam
ao som de música própria ou de antigos sucessos do carnaval. Em geral, a
orquestra de Urso de Carnaval é formada por sanfona, triângulo, ganzá, pandeiro
e reco-reco. Pode haver um tesoureiro, que arrecada dinheiro entre os
expectadores da folia.
Na versão infantil, a La Ursa é pura brincadeira. As
crianças batem em latas e cantam o refrão em coro uníssono e animado. Felizes,
conseguem apurar alguns reais no final da diversão.
“A la ursa quer dinheiro
Quem não dá é pirangueiro...”
O Boi do Carnaval é uma transformação do bumba-meu-boi do
ciclo natalino. Com nova coreografia e colorido exuberante, algumas figuras são
personagens populares do carnaval pernambucano: Bois, Burras, Cavalo Marinho,
Mateus, Catirina e Babau comandados pelo capitão e tirador de loas trazem
alegria e medo à criançada.
O Samba é outro ritmo do carnaval pernambucano e recebe
influências do frevo, maracatu, capoeira e escolas de samba. Na década de 30,
do século passado, aparecem as primeiras Escolas de Samba do Estado.
Os grupos de Afoxés são cada vez mais populares no carnaval
de Pernambuco, embora venham perdendo as influências dos rituais do Candomblé.
Seus integrantes, principalmente homens, passavam por uma preparação espiritual
antes dos desfiles, o que já não acontece hoje. A presença da percussão
(atabaques, agogôs e xerês) é essencial e
muitos cantos são na língua Nagô.
A programação oficial do carnaval do Recife, define vários
pólos de animação, conforme a preferência do folião. No centro, destacam-se:
Pólo Recife Multicultural (Marco Zero),
Pólo das Fantasias (Praça do Arsenal), Pólo Mangue (Cais da
Alfândega), Pólo de Todos os Frevos (Avenida Guararapes), Pólo de Todos os
Ritmos (Pátio de São Pedro), Pólo Afro (Pátio do Terço), Pólo das Agremiações
(Av. Dantas Barreto), Pólo das Tradições (Pátio de Santa Cruz). Destacam-se,
ainda, o carnaval nos bairros, nos chamados pólos descentralizados: Santo
Amaro, Chão de Estrelas, Casa Amarela, Nova Descoberta, Alto
José do Pinho, Várzea, Ibura e Jardim São Paulo.
OLINDA
Distante do Recife 6 km, é o centro antigo da cidade que
monopoliza o seu carnaval, no sobe e desce das ladeiras.
“Olinda esse meu canto
Foi inspirado em seu louvor
Entre confetes e serpentinas
Venho lhe oferecer
Com alegria o meu amor.
Olinda!
Quero cantar
A ti, esta canção
Teus coqueirais
O teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração
De amor a sonhar
Minha Olinda sem igual
Salve o teu carnaval.”
A primeira capital do Estado ostenta os títulos de
Patrimônio da Humanidade, de 1ª Capital Brasileira da Cultura e da Terra dos
Bonecos Gigantes. Destaque para os inúmeros artistas plásticos e de artesanato
que buscam inspiração ou residem na histórica cidade pernambucana. Nas ladeiras
e no casario colonial sua sempre linda vista do horizonte atrai turistas o ano
inteiro, particularmente no carnaval. E a partir da virada de um novo ano, já é
carnaval em Olinda, quando prévias animadas de seus principais blocos e
agremiações revezam-se nas semanas pré-carnavalescas. Destaque para o desfile
das Virgens do Bairro Novo um dos primeiros blocos de homens travestidos. O
Homem da Meia-Noite, fundado em 1932, abre oficialmente o carnaval olindense a
zero hora do sábado de Zé Pereira. Considerado o pai dos gigantes, serviu de
inspiração para o artista plástico Sílvio Botelho, que já criou centenas de
bonecos gigantes, sendo, inclusive, o idealizador do Encontro de Bonecos
Gigantes em Olinda, já tradição, que acontece na manhã da terça-feira, nas
ladeiras de Olinda, reunindo todos os gigantes em desfile e arrastando milhares
de foliões de todas as idades. Destaque para Marin dos Caetés, Vassourinhas,
Pitombeira e Elefantes. O bloco do Bacalhau do Batata, há décadas, estica o
carnaval para quarta-feira de cinzas para quem trabalha no período do tríduo
momesco, sendo o pré-cursor do quero mais carnaval, que se espalha cada vez
mais nos vários cantos do Brasil. Olinda, enfim, é a cidade que tem o maior
carnaval participativo, que se organiza, irreverentemente, em inúmeros blocos,
agremiações, grupos ou eu-sozinho. Basta querer. Os nomes dos blocos, troças e
agremiações olindenses merecem destaque pela originalidade e irreverência.
“Tem mais que estar nessa
Fazendo misura na ponta do pé
Quando o frevo começa
Ninguém me segura.
Vem ver como é
O frevo madruga
Lá em São José
Depois em Olinda
Na praça do Jacaré
Bom demais, bom demais
Bom demais, bom demais
Menina vem depressa
Que esse frevo é bom demais.”
BEZERROS
Cidade distante do Recife cerca de 107 km e tem a BR 232
como via de acesso. É conhecida como a Terra dos Papangus. E, no domingo de
carnaval, no centro da cidade e ao som de orquestras de frevo, acontece o
grande encontro de centenas de papangus. A brincadeira surgiu no início do
século XX, quando casados foliões fugiam de casa, escondidos pelas máscaras,
para brincar o carnaval. Para manter as energias, comiam o angu (comida típica
nordestina, à base de milho) na casa de amigos e parentes. Com o passar do
tempo, o grupo de papangus foi aumentando, mas o segredo da identificação do
folião foi preservado, se mantendo até hoje. Pessoas de todas as idades
divulgam e mantém a tradição, muitas confeccionam sua próprias máscaras e Bezerros
tem um motivo próprio na temática de seu artesanato.
ILHA DE ITAMARACÁ
“O mar estava tão belo
E um peixe amarelo eu vi navegar, navegar
Não era peixe não era
Era Iemanjá, Rainha
Dançando ciranda, ciranda
No meio do mar.”
A Ilha de Itamaracá fica distante do Recife 47 km e os
acessos principais são pela BR 101 Norte, PE 35 e PE 15. A ponte sobre o Canal
de Santa Cruz faz a ligação da ilha com o continente, através da cidade de
Itapissuma. O referencial cultural da ilha pode ser considerado a ciranda, pois
é a terra de Lia de Itamaracá. E, embora a Ciranda não seja típica do ciclo
carnavalesco, a ele empresta seu ritmo e sua dança, sendo mais uma riqueza do
carnaval de Pernambuco. Para dançar é só entrar na roda, dando-se as mãos. E,
se a roda ficar muito grande, outra roda menor, imediata e sucessivamente é
feita.
GOIANA
Distante do Recife 60 km, os principais acessos são pela BR
101 Norte, PE 15 e PE 01. Goiana está a aproximadamente 10 km da divisa de
Pernambuco com a Paraíba. As suas principais manifestações carnavalescas são os
caboclinhos e os maracatus rurais.
A origem indígena dos Caboclinhos ou Cabocolinhos é
indiscutível. Está no figurino, onde penas multicoloridas são usadas em tangas
e cocares, além de adereços diversos como colares, pulseiras, braçadeiras e
tornozeleiras O grupo é formado por homens, mulheres e crianças com papéis
definidos: cacique, mãe-da-tribo, pajé, matruá, porta-estandarte, perós
(meninos e meninas), caboclos-de-baque, cordão de caboclos e de caboclas. Todos
passam apressados, em filas, ao som das preacas (arco e flecha) e na exibição,
contam, também, com um pequeno grupo de músicos, que toca inúbia (um pequeno
flautim de taquara), caracaxá, tarol e surdo. A coreografia consiste em
abaixar-se e levantar-se com agilidade, apoiando-se nas pontas dos pés e
calcanhares, sob a marcação característica das preacas. Canindés e Carijós são
as tribos de caboclinhos mais antigas de Pernambuco, ambas fundadas em1897.
NAZARÉ DA MATA
Cerca de 65 km separam o Recife e Nazaré da Mata - a Terra
dos Maracatus Rurais - enquanto a BR 408 encurta a distância entre as duas
cidades. O maior Encontro de Maracatus do Estado de Pernambuco acontece na
segunda-feira de carnaval quando para Nazaré da Mata se dirigem grupos de
outros municípios, lotando caminhões e ônibus ou realizando extensas caminhadas
pelos canaviais da Zona da Mata.
Os Maracatus Rurais recebem outros nomes: Maracatus de
Baque-Solto, Maracatus de Orquestra ou Maracatus de Trombone. Suas origens e
histórias são ainda pouco conhecidas. Acredita-se que surgiram da fusão de
folguedos diversos da cultura do interior do Estado, em especial, da zona
canavieira e foi conquistando, gradativamente, espaço e status no carnaval
pernambucano. Observa-se, ainda, um certo sincretismo religioso, quando
homenagens aos orixás são feitas antes da saída dos grupos. A Boneca preta é
calçada pela madrinha, isto é, consagrada e batizada com rezas e defumadores.
Alguns Caboclos de Lança e de Pena desfilam atuados, isto é, protegidos pelas
magias de cultos à Jurema e outras entidades afro-indígenas. O cravo branco ou
vermelho, preso entre os dentes, simboliza esses rituais religiosos. O colorido
das fantasias e dos adornos e o som produzidos dos chocalhos são os principais
elementos visuais dos Maracatus Rurais. O personagem mais característico é o
Caboclo de Lança, que tem o rosto pintado de urucum e segura uma lança de
madeira torneada cuja ponta, aguda e comprida, tem cerca de 3O cm. Ele a segura
com as duas mãos e a movimenta para cima, para baixo e para os lados, afastando
a multidão, enquanto corre, salta e dança, num duelo imaginário. Usa um
ceroulão (calça de chitão), a fofa (calça frouxa com franja por cima do
ceroulão), meias de jogador, camisa de mangas compridas e de cor viva e uma
grande gola toda bordada por milhares de lantejoulas e missangas, normalmente
confeccionada por quem a usa. O surrão, armado por galhos, sustenta quatro ou
cinco chocalhos e marca o ritmo e o andar do Caboclo de Lança. Um lenço
amarrado à cabeça e, sobre ele, um chapéu de palha ornado de fitas de papel
celofane, multicoloridas ou de uma única cor, muito vistoso e que dá leveza aos
movimentos. Óculos escuros, um galho de arruda atrás da orelha e um cravo
branco entre os dentes, completa o visual do Caboclo de Lança. Durante a
exibição, o Maracatu Rural evolui, rapidamente, em círculos, onde os Caboclos
de Lança correm por fora e as Baianas e Damas de Buquê dançam num outro, no
interior. No centro ficam o Estandarte, a Boneca, o Rei, a Rainha e os Caboclos
de Pena (Tuxáus). Um coro feminino acompanha a orquestra composta pela
percussão (ganzá, tarol, cuíca, surdo e zabumba) e alguns instrumentos de sopro
(gonguê, saxofone, corneta e trombone).
PESQUEIRA
Distante do Recife 209 km, tem a BR 232 como via de acesso.
É conhecida como a Terra dos Caiporas, título que conquistou a partir de 1962,
quando saiu o primeiro bloco carnavalesco de caiporas: homens, mulheres e
crianças, vestindo terno e gravata e tendo um enorme saco de estopa na cabeça.
O que era motivo de medo passou, assim, a ser motivo de alegria e brincadeira.
Segundo a tradição, tochas sobrenaturais apareciam em cima das árvores,
assustando e pregando peças nos caçadores e seus cães. Para acalmar as
assombrações (caiporas) e fazer boas caçadas, muitos deixavam fumo e cachaça
nos troncos das árvores, alimentando a lenda.
VITÓRIA DE SANTO-ANTÃO
Cidade que fica 51 km de distância do Recife e tem o acesso
pela BR 232. O que caracteriza seu carnaval, que reúne mais de cem agremiações,
é a rivalidade alimentada entre seus clubes, que desfilam carros alegóricos,
apresentam fantasias luxuosas e realizam bailes. Os dois principais clubes (O
Camelo e O Leão) mobilizam preferências de integrantes e moradores da cidade,
que agem como torcedores fanáticos, especialmente no domingo e na terça-feira
de carnaval, quando há os principais desfiles.
TRIUNFO
Localizada no sertão pernambucano, Triunfo fica a 402 km de
distância do Recife. A BR 365 e a BR 232 são as principais vias de acesso. Os
Caretas são responsáveis pela originalidade do carnaval naquela cidade.
Fantasiados e mascarados, de todas as idades, usam chicotes que fazem estalar
no ar. Anualmente é realizado concurso que elege o Careta mais bem
caracterizado.
ABREU E LIMA
Fazendo parte do Grande Recife, fica 20 km de distância da
capital. As vias de acessos são a BR 101 Norte, a PE 15 e a BR 408. Além dos maracatus
rurais e das cirandas, destacam-se as Rodas de Coco, que cada vez mais se
incorporam aos festejos carnavalescos.
“Ninguém pode resistir
O frevo desses que faz,
Demais a gente se distinguir
Deixe o frevo rolar
Eu só quero saber
Se você vai brincar
Ah! meu bem sem você
Não há carnaval
Vamos cair no passo e a vida gozar.”
E quem quer curtir sol, céu e mar e, ainda, brincar carnaval
dos bem animados, muitas outras opções há, ao norte ou ao sul do Recife, em
pleno Litoral pernambucano.
(Litoral Norte)
PAULISTA
Distante do Recife 15 km, tem por principais acessos a PE 15
e PE 01. Suas principais praias são: Janga, Pau Amarelo, Nossa Senhora do Ó,
Conceição e Marinha Farinha.
IGARASSU
Distante do Recife 26 km, as vias de acessos são: BR 101
Norte, PE 15 e PE 01.
ITAPISSUMA
Distante do Recife 36 km, tem a BR 101 Norte como principal
via de acesso.
(Litoral Sul)
JABOATÃO DOS GUARARAPES
Distante do Recife 18 km e acessos por ruas e avenidas do
Recife. Piedade, Candeias e Barra de Jangada são suas principais praias.
CABO DE SANTO AGOSTINHO
Distante 41 km do Recife tem acesso pela BR 101 Sul e pela
PE 07. Possui belas praias entre elas: do Paiva, Itapuama, Pedra do Xaréu,
Enseada dos Corais, Gaibu, Paraíso, Calhetas e Suape.
IPOJUCA
Distante do Recife 57 km, tem a PE 60 e a BR 101 Sul, como
as principais vias de acesso.
Suas principais praias - Porto de Galinhas, Muro Alto,
Maracaípe e Serrambi - cada vez mais se firmam no cenário turístico nacional e
internacional, pela beleza de suas paisagens naturais, destaque na mídia,
status dos turistas, investimentos realizados e eventos náuticos promovidos.
TAMANDARÉ
Distante da capital pernambucana 114 km, tem a PE 60 como
via de acesso.
SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE
Distante do Recife 124 km, as principais vias de acesso são
PE 60 e BR 101 Sul.
Na Região Metropolitana do Grande Recife, o carnaval é
também criativo e multicultural, pois é comum a participação de grupos e
agremiações visitantes ou contratadas para shows, durante o período das folias
de momo.
CAMARAGIBE
Distante do Recife 10 km. Acessos pela BR 408 e avenidas do
Recife.
A Zona da Mata, juntamente com o Litoral, ocupa 11% do
território do Estado. Nos dias de momo, animação, originalidade e todos os
ritmos do carnaval de Pernambuco dão colorido especial ao ciclo carnavalesco
nas cidades que, oficialmente, não fazem parte do roteiro da folia. Opção a
mais para seus moradores e aqueles que preferem dias mais tranqüilos e longe da
rotina do cotidiano.
MORENO
Distante da capital: 28 km. Acessos pela BR 232 e PE 07.
Além da paisagem da Zona da Mata, o frevo e maracatu rural são tradições no
carnaval de Moreno.
A Zona do Agreste totaliza 19% do Estado e os festejos do
carnaval fazem parte da cultura, embora o ciclo junino é que mobilize as
preferências e dinamize o turismo e a economia locais. Essa zona natural do
espaço geográfico pernambucano oferece paisagens de brejos e caatingas, clima
tropical sub-úmido e economia baseada na atividade agro-pecuária.
CARUARU
Distante do Recife 130 km, tem o acesso pela BR 232.
GARANHUNS
Distante 228 km do Recife, tem acesso pela BR 232, BR 104,
PE 117, PE 126 e BR 423.
O Sertão representa 70% do território pernambucano,
predominando clima tropical semi-árido, chuvas escassas e vegetação de
caatinga.
ARCOVERDE
Distante do Recife 252 km, tem acesso pela BR-232.
Arcoverde tem uma variedade de manifestações culturais
destacando-se Samba de Coco, Literatura de Cordel, Bois e Forró. Alguns grupos
e artistas de lá têm projeção nacional e, no carnaval, exercem influências.
PETROLINA
Distante do Recife 714 km. Os acessos são pela BR 232, BR 122,
BR 428 e BR 116.
Finalizando este artigo, os versos de mais um frevo
pernambucano, que traduzem a filosofia de vida do povo daqui, afinal, entre
confetes e serpentinas o carnaval de Pernambuco é demais!
“Quando a vida é boa
Não precisa pressa
Até quarta-feira
A pisada é essa
Prá que vida melhor
Fale quem tiver boca
Eu nunca vi coisa assim
Oh que gente tão louca”
(*) Professora e pesquisadora de Folclore.
thelmalinhares@gmail.com
Recife, fevereiro de 2006
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